Um pequeno raio de luz que atravessava uma brecha na janela
focava em meu rosto. Senti algo claro sobre mim, mas me recusava a abrir os
olhos. Queria poder continuar ali, dormindo, mas não poderia. Lentamente abri
os meus olhos esverdeados afim de não querer ver o clarão. Levantei-me da cama de
madeira maciça que suportada por quatros hastes em cada ponta que sustentava um
grande pano branco que caia sobre os lados da mesma, com um colchão afofado por
meu corpo e lençóis brancos com bordas azuis me cobriam, e meu travesseiro
feito de penas com uma fronha branca de renda. Havia dois gatos pretos em uma
espécie de sofá no canto do quarto, deitados. De repente, uma escrava entra em
meu quarto a fim de preparar para o meu agitado dia. Entregara-me o meu vestido
branco com um tom aperolado e assim o pus. Chegara mais uma escrava em meu
quarto que me dera jóias de ouro puro com pedras preciosas do tipo Esmeralda. Enquanto
me arrumava, outra escrava chega a meu quarto e me traz um belo café da manhã
com frutas e suco. Tomei-o e assim depois de pronta sai pela porta pesada
daquela saleta e fui até o pátio. As
pessoas me viam e me reverenciavam enquanto eu apenas dizia “Bom dia” para os
mesmos. Algumas horas se passaram e alguém o qual eu não conseguia distinguir
quem era me chama e diz que uma moça estava prestes a dar a luz. O segui até
uma casinha de pedras onde não havia quase nada, apenas alguns móveis sujos e empoeirados.
Seria de um casal com baixa condição, mas o que teria de mais nisso? Eu ajudara
a todas as mulheres à qual carregavam um ser – humano dentro delas por vários
meses. Então vi uma moça jovem, de cabelos negros abaixo do ombro e uma feição facial
da que parecia estar sentindo dor sobre uma cama de madeira desgastada e um
colchão velho. Pus a mão sobre sua cabeça e dei a minha benção. E disse –“Já estou aqui. Podemos prosseguir com o
parto” – E a tal moça fazia esforço para que aquele feto pudesse nascer. E
assim aconteceu. Depois de enrolado, peguei aquela criança ensangüentada e dei
a minha benção sobre ela para que a livrasse de todo o mal que nos cercava
naquele pequeno mundo. Todos se reverenciaram e agradeceram pelo o que eu havia
feito. Sai daquela casa e fui direto para a minha. Estava anoitecendo e eu já
me sentia cansada, mas não poderia dormir, pois haveria uma festa esta noite e
é claro, eu era “obrigada” a ir. A noite chegou, o céu estava escuro com poucas estrelas e a lua
cheia brilhava clareando todo o local. Tomei um banho e coloquei minhas vestimentas.
Outro vestido branco de uma só alça com uma corda dourada envolta da minha
cintura como forma de cinto. Usava uma corrente de ouro pesada, brincos
redondos o qual pesavam as minhas orelhas e várias pulseiras em torno dos meus
punhos, todos cheios de Safira. Depois de pronta, sai do meu quarto e fui
diretamente ao local da festa que já havia começado. Havia uma mesa retangular
enorme com comidas e bebidas. Pessoas a cercavam, pegavam pratos e se entupiam de
alimentos e quase todos estavam com uma taça de vinho ou um copo com outra
bebida qualquer. Assim que cheguei, Hórus, o Deus dos céus veio até mim e disse
–“Ora minha Deusa, como estás linda. Venha
para podermos celebrar em teu nome” – Eu o agradeci e fui adiante,
seguindo-o. Todos ficaram a minha volta a fim de me saudar. –“Á Bastet” – E assim ia se repetindo por
todos. Várias pessoas vinham falar comigo. Mulheres traziam seus filhos ainda
bebês para receberem a minha benção. Era cansativo, mas todos estavam felizes.
A festa acabara e eu estava indo para o meu quarto enquanto
duas escravas me seguiam. Parei na frente da porta do mesmo e disse a elas –“Tudo bem, vocês podem ir”– Mas eles
insistiam em ficar. –“Me deixem em paz.
Parem de me incomodar. Estou exausta e preciso descansar então não me perturbem
mais.” – E assim entrei em meu quarto e fechei a porta. Tirei todos aqueles
brilhantes que pesavam em meu corpo e os coloquei sobre a velha penteadeira de
madeira bem feita, com feições detalhadas. Um espelho médio sustentado por ela
e duas gavetas pequenas em que eu guardava objetos pessoais. Deitei-me na cama sem
tirar a minha vestimenta de tão cansada, e imediatamente fechei os olhos e
adormeci. Amanhã seria outro dia exaustivo.
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